Revista Diário - 30ª Edição
A Lei Áurea (Lei Imperial nº 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888) extinguiu a escravidão no Brasil, e como ideal libertário ‘descoisificou’ o negro, elevan- do-o ao status de cidadão, agora detentor de direitos e obri- gações e, assim, este país mestiço prosseguiu. O anos se passaram e as desigualdades do negro conti- nuaram na educação, no trabalho remunerado, na ascensão da carreira profissional, na moradia, no crime, na exclusão dos melhores bairros. E ela é tão latente que chegamos a pen- sar que as senzalas são outras e ainda persistem com muita intensidade. É um racismo velado onde, em 2017, segundo dados das pesquisas Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí- lios) realizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a renda média do trabalho para a população era de R$ 1.570 para negros, R$ 1.606 para pardos e R$ 2.814 para brancos. Dados também da Pnad, só que mais antigos, de 2015, mostram que apesar dos negros e pardos representarem 54,9% da população na época, a sua participação no grupo dos 10% mais pobres era muito maior: 75%. Já no grupo de 1%mais rico da população, a porcentagem de negros e pardos era de apenas 17,8%. O desemprego é maior e a escolaridade bemmenor nessa população. Aexemplo, a obtenção de nível superior, em 2017, somente ocorreu com 9,3% de negros contra 22,9 % de bran- cos. Negros sofrem mais com a violência. Em 2015 e 2016, 78% das mortes policiais foram de negros. Essa violência le- tal traz índices que indicam que nesse quantitativo é como se negros e brancos vivessem em um país completamente dis- tinto. Segundo dados do TSE, das 1.626 vagas para deputados distritais, estaduais, federais e senador, apenas 65 foram preenchidas por candidatos que se autodeclararam pretos nas eleições 2018, representando apenas 4% dos eleitos. Negros (pretos e pardos) somaram 444 candidatos eleitos em 2018, o que representa 27,3% do total. Uma subrepresen- tação diante de ser a maioria da população brasileira. Um quadro entristecedor e sem paralelos. Para José Vicente, reitor da Zumbi dos Palmares, “nem no auge do apartheid sul-africano e (segregacionismo) ame- ricano os números eram tão ruins”. Para comparar, o reitor disse que, mesmo no antigo regime sul-africano, ainda havia iniciativas de inclusão. E por aqui, quando a gente vê jovens e homens negros presos por crimes que não cometeram e, soltos após algum tempo, porque foram confundidos pelas vítimas, a coisifica- ção volta tão avassaladora, ressoando e reverberando as ra- cistas expressões: “preto é tudo igual”; “quando não suja na entrada, suja na saída”. Que políticas inclusivas sejam pensadas e executadas com mais intensidade. E viva a cultura, onde negros dão um show, literalmente! Juízadedireito ElayneCantuária ARTIGO A nova senzala Revista DIÁRIO - Edição 30 - 16 Juíza e articulista do Jornal Diário do Amapá e Revista Diário
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