Revista Diário - 30ª Edição

descendente e para que o Marabaixo e o batuque sejam disse- minados como conteúdo didático e pedagógico nas instituições de ensino dos diferentes níveis para contrapor ao preconceito e à discriminação e sejam também vetores dinâmicos na busca pelo justo reconhecimento dessas manifestações e pela tão so- nhada consagração da igualdade racial. Elísia Congó é comba- tente de primeira chamada e contagia as pessoas que a cercam e que como ela, amam salvaguardam a cultura de matriz afri- cana. Mas quem é Elísia Congó? “Sou amapaense,administradora, professora, ativista cultural, sócia fundadora e acadêmica da Aca- demia Amapaense de Batuque e Marabaixo” (AABM), filha de Mário Ferreira do Amaral e Raimunda Carmo da Silva, Dona Dica Congó, um dos ícones da cultura afrodescendente do Amapá, e meus avós maternos são Benedito Lino do Carmo, Seu Congó, mitológico fundador do bairro homônimo e Raimunda Rodri- gues da Silva” diz ela com a propriedade de quem possui DNA definitivamente singular. Seus ancestrais vieram da Mãe África via tráfico negreiro para serviremde mão de obra na construção da Fortaleza de São José de Macapá, ocorrida entre 1764 e 1782. Vieram segundo ela B“ traficados da atual República do Congo”, daí o apelido com o acréscimo do acento agudo na última vogal. Elísia nasceu em Macapá, no dia 16 de dezembro de 1964, cresceu no antigo Bairro da Favela (atual Centro) numa área li- mítrofe como Bairro Santa Rita e que emalguns trechos era tam- bém chamado de Bairro da CEA. Cresceu nos campos da Favela, estudou no antigo Grupo escolar Coaracy Nunes, passando pos- teriormente pelo Colégio Amapaense (CA), Colégio Comercial do Amapá - CCA (atual Escola Estadual Gabriel de Almeida Café) e Instituto de Educação do Território do Amapá (antigo IETA e em cujo endereço funciona atualmente a Universidade estadual do Amapá – IETA). EmBelém, estudou no antigo “Convênio” (junção entre 3º ano do 2º grau e o preparatório para o vestibular) no Colégio Santa Maria de Belém, escola tradicional da capital pa- raense. Formou-se emAdministração pela Universidade da Ama- zônia (Unama) e em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em Pedagogia. Pós graduou-se emMarketing (latu sensu). “Sou funcionária pública concursada do CEPAJOB (Cen- tro de Ensino Profissionalizante), onde leciono as disciplinas RH e Empreendedorismo”, conta ela ao exibir orgulhosamente suas credenciais, que conquistou com sacrifício, garra, carisma e com- petência. Elísia é fundadora e atualpresidente de honra do grupo Raí- zes da Favela - Dica Congó, e nesse aspecto, em particular, ela conta um episódio que marcou sua vida: “quando criança, fui acometida de sarampo,e por isso,fui dada em proteção à Santís- sima Trindade.Após a morte de minha mãe Dica Congó, dei con- tinuidadeà suamissão de realizar o ciclo doMarabaixo emhonra à Santíssima Trindade dos Inocentes, faço isso até hoje”, conta ela com orgulho e emoção Em termos de religiosidade Elísia se assume como católica e candomblecista e, nesse sentido, luta incessantemente contra a discriminação e o preconceito que atinge os cultos de matriz africana e cerra fileiras juntamente com seus pares culturais no combate a toda forma de exclusão, não somente no âmbito da cultura e das crenças e credos de origem africana. A marabaixeira do berço da Favela segue com ardor e devo- ção os princípios e valores herdados da ancestralidade africana ao lado dos seus 8 irmãos desangue: Rodrigues Chevrolet (ex- jogador de futebol), Profª. Raimundinha, Mariozinho (policial civil, Socorro, Chica, Domingas , Clarisse. “Sou mãe de 3 meni- nas: Francinete Congó, Vitória Congó e Ana Bella Congó. Em 2020, se Deus quiser, irei realizar novamente o Ciclo do Mara- baixo emhonra a santíssima trindade dos inocentes, no Barracão Dica Congó – Favela”, conta ela cheia de planos para a cultura e a arte que representa e preserva.  Dentre as musas do quadro contemporâneo do Marabaixo e Batuque, Elísia Congó emerge com destaque como cantora, compositora e ativista cultural. Revista DIÁRIO - Edição 30 - 21

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