Revista Diário - 30ª Edição
E m 2019, aconteceu emMacapá a 14 ª edição do Fes- tival Brasil Sabor, grandioso evento gastronômico que ocorre em todo o território nacional, e aqui foi realizado pelo setor gastronômico local e os parceiros Se- brae, Prefeitura e Governo do Amapá. O tema proposto buscou a valorização de ingredientes das cinco regiões do país (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul), utilizados em criações exclusivas feitas por chefs de cozinha. Os pratos desenvolvidos puderam ser degustados em um circuito gastronômico na sede do Se- brae-AP, chamado de ‘tour gastronômico’, com preços po- pulares. Como o principal objetivo do festival era promover a culinária local e valorizar os profissionais de cozinha amapaense, paralelo ao circuito de gastronomia, ocorre- ram diversas aulas com profissionais locais e renomados chefs de cozinha brasileiros, propondo uma fusão dos in- gredientes comuns no mercado tucuju às receitas tradi- cionais de outras regiões do Brasil. Nesse sentido, vale destacar a aula do chef André Bar- ros (de Goiás) com a amapaense Flora Santana (do Res- taurante Flora). Eles prepararam um arroz de suã do cer- rado com tucupi defumado e ervas da Amazônia; valeu também a aula dos sommeliers de cachaça Mauricio Maia e Isadora Fornari, que desenvolveram coquetéis à base de flor de clitória, gengibirra mangarataya, café e tucupi. Eu também pude contribuir com essa festa da gastro- nomia ,e compartilhei o palco com a talentosa Socorro Sussuarana, cozinheira de longa data e profunda conhe- cedora dos insumos da nossa terra, com a missão de bus- car harmonizações para a nossa culinária de raiz, em es- pecial para uma de suas receitas, a farofa de piracuí. Venho defendendo há muito tempo que nossa gastro- nomia tem forte vocação para os vinhos brancos, notada- mente pelo perfil de sabores que nossos ingredientes ofe- recem. A farofa de piracuí da chef Socorro, feita com a tra- dicional farinha de piracuí (à base de acari ou tamuatá se- co e moído), não foge dessa regra. Com seu sabor suave e o aroma dos temperos amazônicos, propus dois brancos, um Torrontés argentino e um Sauvignon Blanc chileno, ambos presentes no mercado local. Para a sobremesa, a chef propôs um doce de jambo compotado com iogurte caseiro, em virtude de ser um fruto que se encontra facilmente na cidade, nesta época. Para harmonizar um achado, um licor de chocolate de várzea produzido em Oiapoque, na região do Cassiporé. Com sua pouca untuosidade, pouco índice de açúcar e um aroma de chocolate bem rústico, harmonizou muito bem. Festivais dessa natureza são importantes e devem ser fomentados pelo poder público e a iniciativa privada, pois a gastronomia é uma forte vertente do turismo, se não a maior – uma importante fonte de renda e desenvolvimen- to local. No mesmo sentido, é necessário valorizar e projetar os nossos ótimos insumos, como os que a floresta e o rio nos presenteiam, e a iniciativa dos que empreendem, co- mo a Cooperativa Agroextrativista do Cassiporé, que pro- duz excelente chocolate de várzea (um dos únicos no mundo), bem como a gengibirra mangarataya, bebida que deixou os chefs visitantes embasbacados com a comple- xidade e intensidade dos seus sabores. Tintim! Revista DIÁRIO - Edição 30- 29 Vinhos Dr. JoséBogéa, Advogadoeenófilo IG@confrariadomeiodomundo Festival Brasil Sabor e culinária local JoséBogéa
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