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E
stranhamente este ano de 2017 trouxe
uma maré de estados beligerantes e vio-
lentos no Brasil, culminando com o con-
fronto entre quadrilhas do crime organizado que
se enfrentaram dentro de presídios, greves de
policiais militares e incêndios em ônibus, entre
outros, num clima de revolta popular.
Fico me perguntando o PORQUÊ de tanta
insurreição. Lembro de um professor de história
geral que sempre nos explicava que, na história
da humanidade, ciclos de regimes políticos e de
governos, quando não mais legítimos e respei-
tados pelo povo ou pelos oprimidos, acabam por
ter rompimentos nem sempre pacíficos.
Nosso país vive um momento em que nossa
forma de pensar na coisa pública mudou radi-
calmente. O slogan tão comum nas décadas pas-
sadas, “rouba mas faz”, foi substituído por aus-
teridade, prestação de contas, lava jato e a valo-
rização da honestidade no administrar os bens
do Estado. O povo começou a se dar conta de
que o dinheiro desviado, pago em propinas para
obtenção de vantagens nos serviços públicos,
criou um sistema criminoso que emperra o de-
senvolvimento e faz com que serviços essenciais
como saúde, segurança e educação estejam em
estado de precariedade.
Desde a época do antigo INPS, que foi suce-
dido pelo SUS, que hospital e saúde pública são
caóticos e raramente eficientes na profilaxia e
cura da população. Aeducação pública, por sua
vez, com ummodelo ultrapassado e com as ins-
talações sucateadas, deu lugar a uma mina de
ouro: investimento em escola e faculdades pri-
vadas.
A segurança pública, também dever do Esta-
do, andava cambaleando emuma sistema de pena
e retribuição para crimes cometidos que emnada
é ressocializador. Veio a Audiência de Custódia
feita pelo Judiciário para analisar a não prisão e
desabarrotar os presídios. Esses, então possuem
condições desumanas, e a cela, onde era para alo-
jar dez detentos, abriga no mínimo 30.
Se a segurança já era ruim, agora parece que
o caos se instalou: as facções matam, degolam
e disputam o controle dos presídios; o Estado,
absorto, mudo e calado, precisa reagir, transmu-
dando o caos em ordem, e não sabe por onde co-
meçar. Que o mundo das ideias traga logo a so-
lução. A revolução que dá certo é a do conheci-
mento, não a da violência, a última sempre é não
legitima e terá sempre oprimido e opressor e não
a sadia maioria e minoria, ciclo saudável de toda
democracia, que se alternam e se respeitam.
Revista
DIÁRIO
- Edição 19 -
64
Juízadedireito
ElayneCantuária
Juíza e articulista do Jornal Diário do Amapá e Revista Diário
ARTIGO
A perigosa
insubmissão ao
Estado