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Registro

Aeducação

cabe dentro

dos municípios?

Agora estamos

vendo que não.

Porquê?

obre as indagações do título escrevi um artigo em setem–

bro de 2012, chamado "A educação básica cabe dentro

dos municípios?" Naquela ocasião, o Fundo das Nações

Unidas para Infância (Unicef) havia divulgado (31 de

agosto de 2012) o estudo "Iniciativa global pelas crianças

fora da escola". Apesquisa mostrava que mais de 3,7 mi–

lhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos esta–

vam fora da escola no Brasil. Desse total, 1,4milhão tinha

de 4 a 5 anos; 375 mil, de 6 a 10 anos; 355 mil, de 11a14 anos; e

mais de 1,5 milhão de adolescentes entre 15 e 17 anos. O estudo

não se restringiu a mapear apenas as crianças que estavam fora da

escola, mas também aquelas que correm o risco de abandonar os

estudos.

Apesquisa revelou que eram muitas as barreiras para o acesso

à educação no Brasil. Crianças negras, moradores de zona rural e

de famílias pobres são mais vulneráveis, como também o atraso es–

colar resultado de um ingresso tardio ou de repetências. Esse úl–

timo foi o fator crítico que levou ao abandono. Porém, o Censo de

2010 do IBGE já havia retratado esta realidade. No Amapá, 9,5%

das crianças de 4 a 14anos estavam fora da escola. Esse percentual

à época estava acima da media nacional, que era de 6,1%.

Em agosto de 2015, voltei a debater o tema com o artigo "A edu–

cação básica cabe dentro dos municípios. Agora estamos vendo que

não". O Relatório da ONG Todos Pela Educação divulgado em 2 de

julho de 2015 apontava que o Brasil ainda precisava incluir cerca

de 2,8 milhões de crianças e adolescentes na educação básica.

Então, em 2012, eram 3,7 milhões de crianças, e em 2015 ainda

tínhamos 2,8 milhões. Ao longo dos três anos, foram 900 mil crian–

ças que tiveram acesso

à

escola, ou seja, somente 24,33%. Foi muito

pouco considerando que era o mesmo partido político que gover–

nava o país.

A universalização da Educação Básica continua sendo um de–

safio no Brasil. Por força legal, desde 1996 a educação básica é de

competência dos municípios. Isso ficou estabelecido na Lei de

Di–

retrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Nº 9394/96.

Dados do Censo Escolar de 2016, divulgados em 16 de feve–

reiro de 2018 pelo lnep, apontam que 2,8 milhões de crianças e

adolescentes de 4 a 17 anos estão fora da escola. Continuamos em

2016 com os mesmos números de 2015. Muito embora as fontes

sejam distintas, poderíamos aqui atribuir esta paralisia

à

metodo–

logia de cada estudo. Porém, requer, sim, uma reflexão muito mais

ampla com olhar para o futuro sobre o que impede os avanços da

Educação Básica no país. Se as metas do Plano Nacional da Educa–

ção (PNE) vencidas em 2016 tivessem sido cumpridas, crianças de

4 a 5 anos não estariam fora da escola. Auniversalização do ensino

para adolescentes de 15 a 17 anos também ficou no papel.

Dados divulgados pelo IBGE no último dia 18 de maio sobre a

educação de jovens no país revelam novos cenários. O atraso e a

evasão continuam e se acentuam na etapa do Ensino Médio, que

idealmente deveria ser cursada por pessoas de 15 a 17 anos. Para

essa faixa de idade, a taxa de escolarização foi de 87,2%, porém a

taxa ajustada de frequência escolar líquida foi de 68,4%, indicando

quase dois milhões de estudantes atrasados, e 1,3 milhão fora da

escola.

No Amapá, a universalização da faixa etária de 6 a 14 anos pra–

ticamente foi alcançada em 2016, revelam dados do IBGE. Em

2017, 92,9% das crianças de 6 a 10 anos estavam nos anos iniciais

do Fundamental, enquanto 76,1% das pessoas de 11 a 14 anos de

idade frequentavam os anos finais. Como ocorre no país, o atraso e

a evasão são também os obstáculos do Ensino Médio no Amapá,

cujo nível deveria ser cursado por pessoas de 15 a 17 anos. Para

essa faixa etária, a taxa de escolarização foi de 87,2%, porém a taxa

ajustada de frequência escolar líquida foi de 60,6%, indicando 21

mil estudantes atrasados e sete mil fora da escola.

São muitos os entraves da Educação Básica, como recursos or–

çamentários, estrutura escolar em nível municipal, etc.. Porém,

muitos militantes da causa acreditam que a crise econômica que o

país ainda atravessa tem sido o maior obstáculo para a concretiza–

ção desses objetivos. Sem novos recursos, há quem diga que pode

aumentar o número de crianças fora da escola.

Um outro obstáculo também a ser superado passa pela forma–

ção dos professores. Dados do último Censo Escolar da Educação

Básica, divulgados em março, revelam um panorama preocupante:

39% dos docentes não têm formação adequada na disciplina que

lecionam. Por fim, é necessário assegurar planos de carreira para

os profissionais da Educação Básica, tendo como base o piso sala–

rial nacional. De acordo com levantamento da ONG Todos Pela Edu–

cação, 89,6% dos municípios declararam ter planos de carreira

para o magistério. Entretanto, não existem medições qualitativas

dessas políticas e nem ferramentas de monitoramento sobre apli–

cação do piso pelo Ministério da Educação.

Quando me manifestei pela primeira vez, lá em 2012, a respeito

dessas inquietações com a pergunta "A educação básica cabe den–

tro do município?" percebia a dificuldade dos municípios de geri–

rem a Educação Básica. Depois ficamos sabendo que não cabia. E

agora, o por quê? Não podemos ignorar os avanços. Porém, temos

que olhar para o futuro com a percepção de que as crianças e jovens

são o futuro do país.

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DIÁRIO

- Edição 27 - 37