

DiegoBonilla
Procurador do estado
E
nquanto quase todos os analistas políticos do país op–
taram por avaliar o resultado da eleição de 2018 sob a
dicotomia entre a 'direita' e a 'esquerda', gostaria de
convidar o amigo leitor a refletir comigo despido de qualquer
paixão.
Sim, mais do que criticar os candidatos à Presidência da Re–
pública por qualquer razão, opto por analisar os porquês do fra–
casso pelista e a surpreendente vitória de um deputado do bai–
xíssimo clero de nosso parlamento.
Para compreender o confuso processo eleitoral brasileiro,
precisamos recordar o momento que iniciou a vitória do capitão
Bolsonaro: os protestos populares de 2013. Naquela ocasião, um
grupo de estudantes paulistas foi às ruas hostilizar veemente–
mente o aumento das tarifas do transporte público em vinte cen–
tavos. O protesto cresceu mais do que se imaginava, a população
aderiu ao pleito e acrescentou outras tantas reivindicações, es–
pecialmente na saúde, na segurança e no combate à corrupção.
O movimento de 2013 era apartidário, não possuía lideran–
ças e sua pauta era difusa. Em poucos dias a insatisfação reper–
cutiu em outras grandes cidades e invadiu o Distrito Federal,
passando a alardear a imagem de alguns jovens universitários
de pensamento liberal.
Infelizmente, em dado momento o levante recebeu a parti–
cipação de um grupo que se intitulava "blackbloc", composto
por jovens de classe média, aparentemente revoltados contra lan–
chonetes, concessionárias e agências bancárias. A ação de tal
grupo identificado com uma confusa e impraticável simbiose de
socialismo e anarquismo, culminou com uma onda de violência
e depredação, esvaziando o movimento de estudantes e traba–
lhadores, colocando um ponto final nos protestos.
Daquelas manifestações populares duas grandes dissidências
foram formadas: jovens liberais aliados aos trabalhadores e em–
presários de um lado, e jovens socialistas, unidos aos movimen–
tos sindicais/sociais e ao MST em outra banda. Naquela ocasião
tais frações refletiam apenas o debate e uma nova organização
política, sem um enfrentamento direto nas urnas.
No ano seguinte aos protestos, as eleições de 2014 seguiram
um curso previsível, com a reeleição da confusa presidente Dil–
ma, desta feita com pequena margem de vantagem sobre o can–
didato Aécio Neves. Ali grande parte da população desconhecia
os ilícitos de ambos os candidatos mais votados no pleito, pou-
cos já tinham a compreensão dos reflexos da denominada "con–
tabilidade criativa" da líder pelista, prática ulteriormente reco–
nhecida como "pedalada fiscal". Também eram desconhecidas
as amizades do ex governador mineiro com empresários afetos
a favores não republicanos.
Um ano depois o país estava mergulhado na pior crise eco–
nômica de sua História, fato que deflagrou novo movimento de
insatisfação popular. Contudo, durante os protestos que pediram
o impeachment, as lideranças populares eram identificáveis e a
pauta muito evidente: nascia o antipetismo.
Durante todo o ciclo de crise e ebulição social uma ausência
foi facilmente detectada: a candidata Marina Silva, terceira co–
locada na eleição de 2014, restou providencialmente desapare–
cida, não sublinhando qualquer posicionamento formal. O re–
sultado a acreana colheria em 2018, obtendo uma votação des–
prezível e sendo derrotada, inclusive, pelo desconhecido e fol–
clórico Cabo Daciolo.
A partir do impeachment boa parte da população já estava
decidida a ceifar do poder todo o conjunto ideológico pelista,
imputando ao partido todo o sofrimento experimentado no país.
Por sua vez, um grupo numeroso e coeso seguiu fiel ao ex pre–
sidente Lula, naquela ocasião já afetado por robustas denúncias
de corrupção
Em verdade, a miséria brasileira não foi inventada por Lula,
e muito menos a corrupção tupiniquim nasceu no governo pe–
lista. Entretanto, em um processo de profundo sofrimento eco–
nômico, com índices galopantes de desemprego e violência, as
pechas negativas recaíram nos ombros de todos os partidos que
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Edição29-
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