Previous Page  36 / 60 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 36 / 60 Next Page
Page Background

DiegoBonilla

Procurador do estado

E

nquanto quase todos os analistas políticos do país op–

taram por avaliar o resultado da eleição de 2018 sob a

dicotomia entre a 'direita' e a 'esquerda', gostaria de

convidar o amigo leitor a refletir comigo despido de qualquer

paixão.

Sim, mais do que criticar os candidatos à Presidência da Re–

pública por qualquer razão, opto por analisar os porquês do fra–

casso pelista e a surpreendente vitória de um deputado do bai–

xíssimo clero de nosso parlamento.

Para compreender o confuso processo eleitoral brasileiro,

precisamos recordar o momento que iniciou a vitória do capitão

Bolsonaro: os protestos populares de 2013. Naquela ocasião, um

grupo de estudantes paulistas foi às ruas hostilizar veemente–

mente o aumento das tarifas do transporte público em vinte cen–

tavos. O protesto cresceu mais do que se imaginava, a população

aderiu ao pleito e acrescentou outras tantas reivindicações, es–

pecialmente na saúde, na segurança e no combate à corrupção.

O movimento de 2013 era apartidário, não possuía lideran–

ças e sua pauta era difusa. Em poucos dias a insatisfação reper–

cutiu em outras grandes cidades e invadiu o Distrito Federal,

passando a alardear a imagem de alguns jovens universitários

de pensamento liberal.

Infelizmente, em dado momento o levante recebeu a parti–

cipação de um grupo que se intitulava "blackbloc", composto

por jovens de classe média, aparentemente revoltados contra lan–

chonetes, concessionárias e agências bancárias. A ação de tal

grupo identificado com uma confusa e impraticável simbiose de

socialismo e anarquismo, culminou com uma onda de violência

e depredação, esvaziando o movimento de estudantes e traba–

lhadores, colocando um ponto final nos protestos.

Daquelas manifestações populares duas grandes dissidências

foram formadas: jovens liberais aliados aos trabalhadores e em–

presários de um lado, e jovens socialistas, unidos aos movimen–

tos sindicais/sociais e ao MST em outra banda. Naquela ocasião

tais frações refletiam apenas o debate e uma nova organização

política, sem um enfrentamento direto nas urnas.

No ano seguinte aos protestos, as eleições de 2014 seguiram

um curso previsível, com a reeleição da confusa presidente Dil–

ma, desta feita com pequena margem de vantagem sobre o can–

didato Aécio Neves. Ali grande parte da população desconhecia

os ilícitos de ambos os candidatos mais votados no pleito, pou-

cos já tinham a compreensão dos reflexos da denominada "con–

tabilidade criativa" da líder pelista, prática ulteriormente reco–

nhecida como "pedalada fiscal". Também eram desconhecidas

as amizades do ex governador mineiro com empresários afetos

a favores não republicanos.

Um ano depois o país estava mergulhado na pior crise eco–

nômica de sua História, fato que deflagrou novo movimento de

insatisfação popular. Contudo, durante os protestos que pediram

o impeachment, as lideranças populares eram identificáveis e a

pauta muito evidente: nascia o antipetismo.

Durante todo o ciclo de crise e ebulição social uma ausência

foi facilmente detectada: a candidata Marina Silva, terceira co–

locada na eleição de 2014, restou providencialmente desapare–

cida, não sublinhando qualquer posicionamento formal. O re–

sultado a acreana colheria em 2018, obtendo uma votação des–

prezível e sendo derrotada, inclusive, pelo desconhecido e fol–

clórico Cabo Daciolo.

A partir do impeachment boa parte da população já estava

decidida a ceifar do poder todo o conjunto ideológico pelista,

imputando ao partido todo o sofrimento experimentado no país.

Por sua vez, um grupo numeroso e coeso seguiu fiel ao ex pre–

sidente Lula, naquela ocasião já afetado por robustas denúncias

de corrupção

Em verdade, a miséria brasileira não foi inventada por Lula,

e muito menos a corrupção tupiniquim nasceu no governo pe–

lista. Entretanto, em um processo de profundo sofrimento eco–

nômico, com índices galopantes de desemprego e violência, as

pechas negativas recaíram nos ombros de todos os partidos que

Procurador do Estado earticulista daRevista Diário

Revista

DIÁRIO

-

Edição29-

36