ElayneCantuária
Juíza de direito
O
tempo das
borboletas
A
maioria dos povos se guia pelo calendário gregoriano, que
foi estabelecido pelo Papa Gregório XIII em 1582, toman–
do como base a encarnação de Cristo. Foi criado pelo mé–
dico italiano Luis Lilio, em uma evolução do calendário juliano.
Em todos os calendários se assinalam várias datas comemo–
rativas, quando são festejados feriados mundiais e, geralmente, as
pessoas o marcam como um dia de descanso, e as coisas da cidade,
no mundo moderno, são paralisadas.
Gostaria de falar de um desses: o feriado criado em razão da
cruel violência e morte de três irmãs da República Dominicana,
em 25 de novembro de 1960. A remissão na história é triste e conta
a saga das irmãs Mirabal.
Minerva, Pátria e María Teresa Mirabal eram filhas de Mer–
cedes Camilo Reyes e Enrique Mirabal, comerciante e proprietário
de terras. Elas foram covardemente assassinadas pela polícia se–
creta da ditadura de Rafael Leónidas Trujillo de Molina, o Gene–
ralíssimo Presidente que governou com extrema violência aquele
país de 1930 a 1961.
As irmãs nasceram em Ojo de Agua, na província de Salcedo,
onde o pai, oriundo de urna família importante daquela região, foi
prefeito da cidade.
As irmãs, politizadas e políticas, foram Influenciadas pelos
movimentos de libertação na América Latina e criaram com seus
maridos o Movimento 14 de Junho, o qual teve esse nome após o
dia em que os dominicanos exilados tentaram derrubar o governo
de Trujillo, o Presidente ditador de lá, e foram derrotados pelo
exército.
Dentro deste movimento, as irmãs foram chamados de "Las
Mariposas" (as borboletas), a partir do nome clandestino de
Mi–
nerva.
O movimento enfrentou a repressão, e a maioria de seus mem–
bros foi presa pelo regime de Trujillo, incluindo as irmãs Mirabal
e seus maridos, no fim da década de 1950. Isso gerou crescente
sentimento antigoverno, que obrigou Trujillo a libertar as mulheres
da prisão de La Cuarenta.
A história conta que as irmãs foram assassinadas na volta de
uma visita a seus maridos na prisão. Vítimas de urna emboscada,
foram levadas para um canavial, apunhaladas e estranguladas até
à
morte, junto com o motorista que conduzia o veículo em que es–
tavam. Trujillo acreditou que havia eliminado um grande proble–
ma, mas a morte delas causou grande comoção no pa[s e levou o
povo dominicano a se somar na luta pelos ideais democráticos das
Mariposas. O assassinato das irmãs levou a protestos em massa e
contribuiu para a queda do regime de Trujillo em 1961.
Em 17 de dezembro de 1999, a Assembleia Geral das Nações
Unidas declarou que 25 de novembro é o Dia Internacional da não
Violência contra a Mulher, em homenagem ao sacrifício de Las
Mariposas.
A província onde as irmãs nasceram, Ojo de Agua, foi rebati–
zada de Hermanas Mirabal, em homenagem a essas três mulheres
que dedicaram grande parte de suas vidas, desde muito jovens, a
lutar pela liberdade política de seu país.
Destarte, o dia da não violência contra mulher foi criado com
o sangue da saga histórica das três irmãs. Nesse dia em que come–
moramos orgulhosamente o ativismo feminino e a ascensão do pa–
pel das mulheres, lembramos também do nefasto crime que as fez
perder a vida.
Evoluímos, mas a mulher ainda tem tratamento diferenciado
e diminuto na sociedade: ganha menos que os homens, exercendo
o mesmo cargo e função, é minoria no cenário político, e por aí
vai .... Não se fez justiça ainda com a real importância da mulher
ativista, política e profissional na sociedade contemporânea.
Queremos a releitura do nosso verdadeiro papel na história
atual porque Las Mariposas não morreram em vão!
Juíza earticulista do Jornal Diário do Amapá eRevista Diário
Revista
DIÁRIO
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Edição 29 -
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