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O anúncio de que a mineradora Zamin Ferrous pretende obter uma autorização de embarcar o minério

estocado para garantir o pagamento de fornecedores e funcionários está deixando muita gente com o pé atrás

em relação a se confiar que ela cumpra o que promete. É o que também passa pela cabeça do empresário

Glauco Cei, atual presidente do Sindicato das Empresas da Construção Civil, o Sinduscon. Ele concedeu uma

entrevista esclarecedora à

Diário FM

, respondendo a questionamentos de Ivo Canutti e ouvintes, sobre um

dos mais nebulosos capítulos da história da mineração por aqui, mergulhada em profunda crise, desde então.

Revista

DIÁRIO

-

Edição 19 -

53

Revista Diário – Nessa nova tentativa da minera-

dora Zamin Ferrous, em retomar a sua recuperação

judicial, é grande a expectativa em torno das empre-

sas que prestaramserviços pra ela e tambémdos fun-

cionários de receberem o que ela deve, algo em torno

de R$ 1 bilhão. Como o senhor vê tudo isso?

Glauco Cei –

É verdade. Realmente, emvirtude de uma

ação conjunta para a qual eu inclusive gostaria de agrade-

cer ao emprenho do próprio Ministério Público Estadual,

nas pessoas dos promotores MarceloMoreira, Weber Pen-

nafort e Adilson Garcia, que estão engajados nesse movi-

mento de apoio aos prestadores de serviço dessa

mineradora. Eu tenho um dado de que na época da ope-

ração da Anglo American havia uma circulação em torno

de R$ 40 milhões até R$ 50 milhões por mês no estado,

dependendo da movimentação, é claro. Então é muito di-

nheiro. É preciso que a gente busque o passado do setor

minerário, dessa nova fase iniciada em 1998 com a im-

plantação da MPBA. Depois veio a MMX, com projeto de

ferro; depois a Unagem, comoutro projeto de ferro na área

do Cupixi, então ao longo desses 16, 17 anos nós tínhamos

um setor minerário muito pujante e foi quando nós con-

seguimos quebrar a economia do contracheque aqui do

estado, porque circulava muito dinheiro por conta desse

trabalho, e não dependíamos mais só do serviço público.

Diário – Foi a quebra de um paradigma mesmo,

com a iniciativa privada empregando mais que o

poder público...

Glauco

Sim. Com isso o próprio comércio fez diver-

sos investimentos, em shoppings, em novas lojas, enfim, e

de repente o retrocesso, em virtude da queda do valor de

minério, é preciso que a gente reconheça isso, mas tam-

bém pelo acidente do porto e a consequente paralisação

da ferrovia, o que inviabilizou que o setor minerário con-

tinuasse funcionando. Isso, ao nosso ver, foi uma grande

irresponsabilidade, e o que é pior, deixou um passivo, tra-

balhista e também junto aos fornecedores. Então todos ti-

veram problemas, o comércio, a indústria e os próprios

trabalhadores.

Diário – Aí veio todo um efeito cascata, não é

mesmo?

Glauco

Sim, muita gente quebrou. Para se ter uma

ideia, teve empresário que perdeu sua própria casa emvir-

tude de ações trabalhistas. Então, veja, o que se quer é uma

solução para tudo isso, mas até agora o que tem se apre-

sentado nessa recuperação judicial, que corria só em São

Paulo, e hoje graças a essa ação doMP e tambémpela ges-

tão dos senadores Randolfe e Davi Alcolumbre. Aliás, é

preciso reconhecer que o senador Randolfe foi o primeiro

a denunciar essa venda da Anglo para a Zamin, lá em2014,

quando ele foi inclusive bastante criticado, mas a gente vê

que ele tinha razão. O próprio governador Waldez Góes,

ao assumir o governo, nos chamou para uma reunião para

que a gente explanasse o fato e colocou seu procurador

Galeno pra acompanhar o processo. Portanto, o que a

gente quer é que os danos causados ao estado sejam re-

parados, afinal, o maior prejuízo foi para o estado do

Amapá.

Diário – A ideia é desaforar a recuperação judicial

que tramitava em São Paulo?

Glauco

Que ela tenha a anuência de nós que estamos

aqui no estado do Amapá e que sofremos omaior prejuízo.

Diário – Mas a queda do porto também não invia-

bilizou que outras mineradoras deixassem de escoar

sua produção? Esse prejuízo foi bemmaior, então?

Glauco

Muito maior, pois sem a ferrovia e sem o

porto inviabilizou o setor. Quero deixar claro que eu não

trabalhava com a Unagem, por exemplo, mas muitos dos

meus companheiros, muitos trabalhadores atuavam lá, e

ela tinha uma exportação de mais ou menos 1,5 milhão a

2 milhões de toneladas por ano, o que era o que a Icomi

no seu auge chegou a exportar aqui com o manganês.

Então se a gente tem o porto e a ferrovia essa mineradora

– que quero deixar claro indenizou e pagou todo mundo –

estaria operando agora.

Diário – Então esse foi umdiferencial emrelação a

outras?

Glauco

Sim, um diferencial, eles trabalharam de

forma responsável com o estado onde estavam obtendo a

riqueza, que foi o estado do Amapá. Agora isso não acon-

teceu no caso Anglo-Zamin. Eu não tenho como tirar a

Anglo dessa situação, porque todos os contratos e, pasme,

na época, em2009 a 2010, quando ela comprou o Sistema

Odramadosetor

damineração

Reportagem:

Cleber Barbosa