O anúncio de que a mineradora Zamin Ferrous pretende obter uma autorização de embarcar o minério
estocado para garantir o pagamento de fornecedores e funcionários está deixando muita gente com o pé atrás
em relação a se confiar que ela cumpra o que promete. É o que também passa pela cabeça do empresário
Glauco Cei, atual presidente do Sindicato das Empresas da Construção Civil, o Sinduscon. Ele concedeu uma
entrevista esclarecedora à
Diário FM
, respondendo a questionamentos de Ivo Canutti e ouvintes, sobre um
dos mais nebulosos capítulos da história da mineração por aqui, mergulhada em profunda crise, desde então.
Revista
DIÁRIO
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Edição 19 -
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Revista Diário – Nessa nova tentativa da minera-
dora Zamin Ferrous, em retomar a sua recuperação
judicial, é grande a expectativa em torno das empre-
sas que prestaramserviços pra ela e tambémdos fun-
cionários de receberem o que ela deve, algo em torno
de R$ 1 bilhão. Como o senhor vê tudo isso?
Glauco Cei –
É verdade. Realmente, emvirtude de uma
ação conjunta para a qual eu inclusive gostaria de agrade-
cer ao emprenho do próprio Ministério Público Estadual,
nas pessoas dos promotores MarceloMoreira, Weber Pen-
nafort e Adilson Garcia, que estão engajados nesse movi-
mento de apoio aos prestadores de serviço dessa
mineradora. Eu tenho um dado de que na época da ope-
ração da Anglo American havia uma circulação em torno
de R$ 40 milhões até R$ 50 milhões por mês no estado,
dependendo da movimentação, é claro. Então é muito di-
nheiro. É preciso que a gente busque o passado do setor
minerário, dessa nova fase iniciada em 1998 com a im-
plantação da MPBA. Depois veio a MMX, com projeto de
ferro; depois a Unagem, comoutro projeto de ferro na área
do Cupixi, então ao longo desses 16, 17 anos nós tínhamos
um setor minerário muito pujante e foi quando nós con-
seguimos quebrar a economia do contracheque aqui do
estado, porque circulava muito dinheiro por conta desse
trabalho, e não dependíamos mais só do serviço público.
Diário – Foi a quebra de um paradigma mesmo,
com a iniciativa privada empregando mais que o
poder público...
Glauco
–
Sim. Com isso o próprio comércio fez diver-
sos investimentos, em shoppings, em novas lojas, enfim, e
de repente o retrocesso, em virtude da queda do valor de
minério, é preciso que a gente reconheça isso, mas tam-
bém pelo acidente do porto e a consequente paralisação
da ferrovia, o que inviabilizou que o setor minerário con-
tinuasse funcionando. Isso, ao nosso ver, foi uma grande
irresponsabilidade, e o que é pior, deixou um passivo, tra-
balhista e também junto aos fornecedores. Então todos ti-
veram problemas, o comércio, a indústria e os próprios
trabalhadores.
Diário – Aí veio todo um efeito cascata, não é
mesmo?
Glauco
–
Sim, muita gente quebrou. Para se ter uma
ideia, teve empresário que perdeu sua própria casa emvir-
tude de ações trabalhistas. Então, veja, o que se quer é uma
solução para tudo isso, mas até agora o que tem se apre-
sentado nessa recuperação judicial, que corria só em São
Paulo, e hoje graças a essa ação doMP e tambémpela ges-
tão dos senadores Randolfe e Davi Alcolumbre. Aliás, é
preciso reconhecer que o senador Randolfe foi o primeiro
a denunciar essa venda da Anglo para a Zamin, lá em2014,
quando ele foi inclusive bastante criticado, mas a gente vê
que ele tinha razão. O próprio governador Waldez Góes,
ao assumir o governo, nos chamou para uma reunião para
que a gente explanasse o fato e colocou seu procurador
Galeno pra acompanhar o processo. Portanto, o que a
gente quer é que os danos causados ao estado sejam re-
parados, afinal, o maior prejuízo foi para o estado do
Amapá.
Diário – A ideia é desaforar a recuperação judicial
que tramitava em São Paulo?
Glauco
–
Que ela tenha a anuência de nós que estamos
aqui no estado do Amapá e que sofremos omaior prejuízo.
Diário – Mas a queda do porto também não invia-
bilizou que outras mineradoras deixassem de escoar
sua produção? Esse prejuízo foi bemmaior, então?
Glauco
–
Muito maior, pois sem a ferrovia e sem o
porto inviabilizou o setor. Quero deixar claro que eu não
trabalhava com a Unagem, por exemplo, mas muitos dos
meus companheiros, muitos trabalhadores atuavam lá, e
ela tinha uma exportação de mais ou menos 1,5 milhão a
2 milhões de toneladas por ano, o que era o que a Icomi
no seu auge chegou a exportar aqui com o manganês.
Então se a gente tem o porto e a ferrovia essa mineradora
– que quero deixar claro indenizou e pagou todo mundo –
estaria operando agora.
Diário – Então esse foi umdiferencial emrelação a
outras?
Glauco
–
Sim, um diferencial, eles trabalharam de
forma responsável com o estado onde estavam obtendo a
riqueza, que foi o estado do Amapá. Agora isso não acon-
teceu no caso Anglo-Zamin. Eu não tenho como tirar a
Anglo dessa situação, porque todos os contratos e, pasme,
na época, em2009 a 2010, quando ela comprou o Sistema
Odramadosetor
damineração
Reportagem:
Cleber Barbosa