Revista
DIÁRIO
- Edição 19 -
06
ViverBem
Doutor Alessandro Nunes
Médico professor da Unifap, especializado
em Clínica Médica pela Unifesp, e Geriatria, pela USP
N
as últimas décadas, um problema é lem-
bradopelamídia local comfrequência: os
transtornos pelos quais passampacientes
na fila para cirurgias ortopédicas no Estado. E
muitos são citados como os “culpados” pelos
transtornos: a falta de leitos, escassez dematerial
cirúrgico e exames complementares, ruas mal si-
nalizadas e compavimentação rudimentar, moto-
queiros compouca instrução, períodos de chuva...
tudo! Menos o principal vilão: a osteoporose!
Aosteoporose éumadoença caracterizadape-
la alteração da qualidade óssea. É silenciosa e não
costuma produzir sintomas. Porém, aumenta,
consideravelmente, o riscode fraturas emhomens
e mulheres. Para facilitar a compreensão, vamos
falar apenas do principal agravo produzido pela
osteoporose: as fraturas não ocasionadas por
traumas, portanto, semrelação comacidentes co-
mo os de trânsito. São aquelas que ocorrem após
uma quedadaprópria altura ouduranteuma sim-
ples caminhada e que possuem como único fator
de risco a presença de ossos fragilizados pela os-
teoporose.
Para isso, um estudo chamado BRAZOS (The
Brazilian Osteoporosis Study) realizou um ma-
peamento das fraturas não traumáticas em adul-
tos acima de 40 anos no Brasil e identificou que
cerca de 14%de toda essa população já sofreu al-
guma fratura não traumática pelomenos uma vez
na vida. E cerca de 30%destas ocorreramemos-
sos que necessitamde abordagemcirúrgica ou in-
ternação por complicações, como fêmur, úmero,
vértebras e costelas. Para se ter uma ideia doquão
grave estas fraturas costumam ser, uma recente
publicação de uma das mais respeitadas revistas
médicas chamadaThe Lancetmostrouque, de to-
dos os pacientes acima de 60 anos que sofrem
uma fratura de fêmur, 38%não sobrevivem após
um ano e, dos que sobrevivem, cerca da metade
sofre perda importante de sua funcionalidade co-
mo a capacidade de andar.
E, ao contrário do que se costuma falar, o
Amapá possui uma taxa de mortalidade por aci-
dente de trânsito bastante inferior à média bra-
sileira. No último levantamento de 2008, enquan-
to amédia nacional foi de 20mortes/100.000 ha-
bitantes, oAmapá registrou umvalor 40%menor.
O que mostra que o trânsito, motoqueiros e ruas
má pavimentadas nãopodemser os únicos culpa-
dos pelo calo ortopédico do Estado.
Basta caminhar pela Enfermaria deOrtopedia
doHospital AlbertoLima eperceber que amaioria
dos pacientes é constituída por idosos, muitos in-
ternados por fraturas não traumáticas. Por acon-
tecerem em pacientes senis, esse tipo de fratura
costuma conduzir a internações mais prolonga-
das. Pacientes com mais idade exigem uma ava-
liação pré-operatória mais cuidadosa e exames
clínicos e de imagemmais demorados.
E, para piorar todo esse cenário hostil ao ido-
so, a rede pública não possui o exame de Densi-
tometria Óssea (capaz de fazer o diagnóstico da
doença) e as principais medicações para trata-
mento de osteoporose e prevenção de fraturas
estão indisponíveis pelo SUS. O único medica-
mento oferecido é uma droga chamada de raloxi-
feno, que, apesar de cara, não consegue prevenir
fraturas em regiões como o fêmur.
Porém, a prevenção de fraturas não depende
de medicações e exames. A prática regular de
exercícios físicos, o consumo adequado de laticí-
nios e exposição solar também podem ajudar na
redução de perda de massa óssea. Portanto, co-
brar melhorias é importante, mas pequenas mu-
danças no estilo de vida já podem fazer a diferen-
ça nessa preocupante estatística.
Entenda como a osteoporose
se transformou em um dos
maiores gargalos da
Saúde Pública do Amapá