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E

m um estudo realizado recentemente

por acadêmicos de medicina da Uni‐

fap, foi observado que, nos últimos

cinco anos, 50 casos foram noti icados por

doença de chagas apenas na cidade de Ma‐

capá. E o mais curioso: pelo menos 90%

desses foram transmitidos através do con‐

sumo do nosso tão valioso açaí.

A doença de chagas é considerada uma

doença endêmica na América Latina, onde

se estima haver cerca de 12 milhões de

pessoas infectadas, e mais de 20 mil mor‐

tes por ano em virtude da patologia. Graças

à forma de transmissão pelo consumo de

açaí, nós, habitantes de Macapá, possuímos

um risco 28 vezes maior de contrair a for‐

ma aguda da doença, quando comparados

com o restante da população brasileira.

A infecção é causada pelo protozoário

parasita Trypanossoma Cruzi, que é trans‐

mitido pelas fezes de um inseto (triatoma)

conhecido como barbeiro. Como o parasi‐

ta habita o intestino do inseto, a transmis‐

são ocorre de duas formas principais: ou

quando a pessoa coça o local da picada e

as fezes eliminadas pelo barbeiro pene‐

tram pelo orifício que ali deixou, ou quan‐

do ingerimos alimentos triturados junta‐

mente com o inseto. Como o açaí , em sua

maioria, é proveniente de regiões ainda

florestadas e é transportado em sacas pa‐

ra as batedeiras da capital, há um ambien‐

te perfeitamente viável para o transporte

de insetos concomitantemente com os

frutos, bem como a presença de dejeções

ou fluidos contaminados.

Visando evitar o risco da contamina‐

ção do açaí, o Ministério da Saúde reco‐

menda aos produtores artesanais a utili‐

zação das técnicas de higienização e

branqueamento (imersão em solução de

hipoclorito) do fruto do açaí, aliada às

boas práticas de coleta, transporte, arma‐

zenamento e manipulação.

E então? Que tal nos tornarmos “ is‐

cais do açaí” para salvar esse fruto tão im‐

portante à nossa economia e indispensá‐

vel nas nossas mesas?

ViverBem

Doutor Alessandro Nunes,

Médico professor da Unifap, especializado

em Clínica Médica pela Unifesp, e Geriatria, pela USP.

Como o açaí está

“ressuscitando”

a doença de chagas

emMacapá

PARA O BRANQUEAMENTO DO

AÇAÍ, DEVE SER REALIZADA:

Seleção adequada dos

caroços do açaí;

Submersão dos caroços em

água quente a uma

temperatura de 80°C

por dez segundos;

Transferência rápida para

água fria, para que

conteça um choque térmico.

PARA A HIGIENIZAÇÃO

DO FRUTO:

Lave os caroços em água

potável com Hipoclorito

de Sódio 2% por

20 minutos;

Lave novamente os

caroços, duas vezes;

Processe os caroços

com água filtrada.

Revista

DIÁRIO

- Novembro 2015 -

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