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Revista

DIÁRIO

-

Edição 19 -

39

Recuo das

águasdo rioAraguari

já supera 80quilômetros

A

s constatações da comunidade

científica a respeito das transfor-

mações provocadas pela inter-

venção do homem na natureza do

Amapá são de fato preocupantes. Tes-

temunha ocular do seminário que dis-

correu sobreo tema, ogeólogoAntônio

Feijão diz de forma lúdica, como se dá

abatalhaentreos riosAmazonas eAra-

guari. “Embora a gente pense que o rio

Amazonas seja um ser de paz, ele é

mesmo de guerra e o oceano Atlântico

também”, diz ele.

OprópriooceanoAtlântico, que tem

suaposição consolidada auma centena

demilhõesdeanos, nãoaceitaqualquer

desafio. “E parte para cima também,

portanto é esse duelo que está impli-

cando emgrandes transformações não

só da natureza como na vida do

homem. Ogeólogoexplicaque antigos regis-

tros, como as publicações do pesquisa-

dor e navegador francês Charles La

Condamine (1701-1774) jámostravam

apujançadoAraguari, que considerava

ter “duas bocas”. Mas o rio e atémesmo

toda uma rede de furos, igarapés e rios

menores como o Gurijuba, que tinham

uma conexão sazonal com o Araguari,

foraminvadidospeloAmazonas. “Agora

são rios commais de trezentosmetros

de largura e com profundidades supe-

riores a vinte metros, com a maré indo

ládentroondeeraoantigo leitodoAra-

guari”, narra Antônio Feijão.

Por fim, ele diz que pesquisadores

como a professora Valdenira Ferreira

consideram que nada agora pode ser

feito para frear isso. “Nessa luta de um

gigante com pigmeus é difícil o Ama-

zonas não vencer, não tem como você

conter o maior rio do mundo”, pon-

dera. Já o professor Admilson Torres,

do Iepa, diz que já são mais de 16 as

ilhas da região que estão perdendo

território e que poderemos ter salini-

zação chegando até aRegiãodos Lagos,

provocando profundas mudanças de

vida emtoda a regiãododelta doAma-

zonas.

CIENTISTAS

Professor e geólogo

do AP, Admilson Torres

alerta para os efeitos

que a salinização pode

provocar.

(2ª da dir. para esq.)

Pesquisadora

Valdenira Ferreira

(Iepa) é dura ao

afirmar que agora

nada pode ser feito

para frear ação do rio

mar sobre o Araguari

(1ª à esq.)