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Revista

DIÁRIO

- Novembro 2015 -

66

Vinhos

JoséBogéa

A nova cozinha

brasileira tem

requinte

com tempero

regional

O

reconhecimento mundial da cozinha

brasileira vem acontecendo a partir

da aplicação de técnicas da alta gas‐

tronomia com a utilização de ingredientes

regionais. Renomados chefs, como Alex Ata‐

la e Roberta Sudbrack, são representantes

dessa tendência e considerados embaixado‐

res da nova cozinha brasileira.

O sucesso alcançado reside, justamente,

na qualidade do sabor e no caráter exótico

desses ingredientes, desconhecidos da gran‐

de maioria, como o pequi, taioba, ora‐pro‐

nóbis (hortaliça com folhas comestíveis),

dentre outros. Nesse cenário, nada se apre‐

senta com maior originalidade do que os in‐

sumos culinários da floresta amazônica.

Cupuaçu, bacuri, pirarucu, tucunaré, fi‐

lhote e tantos outros sustentam a culinária

regional do Norte, baseada em técnicas in‐

dígenas. Talvez o mais famoso deles seja o

tucupi, caldo extraído da mandioca proces‐

sada, cheio de sabor e personalidade. Aliás,

não é possível deixar de falar em seu inse‐

parável companheiro, o jambu, conhecido

pelo famoso tremor que causa no paladar.

Pois bem, a excentricidade dos sabores

amazônicos e, principalmente, da dupla tu‐

cupi e jambu, costumam gerar grandes po‐

lêmicas sobre os vinhos que melhor harmo‐

nizam. O caldo do tucupi costuma ter sabor

pungente e ácido, enquanto que o jambu não

agrega sabor, mas somente a sensação tátil. Es‐

se conjunto pede elevada acidez do vinho que

irá acompanhar, assim como um bom corpo.

Estive recentemente em um dos restauran‐

tes dos irmãos Castanho, em Belém do Pará, o

Remanso do Peixe, e puder tirar minhas pró‐

prias conclusões, que aproveito para comparti‐

lhar aqui. Pedi uma moqueca paraense (adap‐

tação feita com ilhote, tucupi, jambu e tempe‐

ros amazônicos) e a sensacional moqueca de

pirarucu defumado (este comadição de leite de

coco). Para acompanhar, tinha em minha taça

um vinho alemão da uva Riesling, Wittman‐

Morstein GG 2014, bemmineral no aroma e bo‐

ca, com excelente acidez.

Amaravilhosa experiênciamemostrou que

vinhos comcaráctermineral e ótima acidez vão

muito bemcoma culinária do Norte, em espe‐

cial com o tucupi e jambu. Então, a harmo‐

nização aponta para os rieslings da Alema‐

nha ou da Alsácia (na França), assim como

para os brancos portugueses, em especial os

alentejanos feitos com a uva Antão Vaz.

EmMacapá, existem

restaurantes com

ótimos pratos

regionais. No entanto,

infelizmente, não

encontramos com

facilidade

estabelecimentos que

ofereçamuma carta

variada de vinhos. Mas

a tendência é que isso

mude comas

exigências crescentes

domercado. Fica a

torcida para que isso

aconteça omais breve

possível.

Dr. JoséBogéa,

advogado e enófilo - ntbog@uol.com.br

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