Revista
DIÁRIO
- Novembro 2015 -
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L
ogo no hall de entrada da biblio‐
teca o visitante/observador notava
a imagem em óleo sobre tela de Nos‐
sa Senhora ladeada por querubins. A Mãe do
Mestre dos mestres foi alvo de agradecimentos de
amapaenses e paraenses, antecipando as festividades
do Círio, quando peregrinos com a imagem da Santa vi‐
sitaram hospitais e repartições públicos para depois
ocorrer a grande procissão. A história da humanidade
é permeada de imagens e representações simbólicas.
Mais adiante, na exposição, uma bela mensagem
reflexiva: A Gloriosa Escada de Jacó com os dizeres:
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Notava‐se um
espelho estratégica e propositalmente colocado no úl‐
timo degrau de cima, marcando o fim da escada. O que
R. Negrão quis passar como mensagem? Talvez seja:
“Conhece‐te a ti mesmo”, ao olhar nossa “careta” no
espelho. E mais: “Bateis e sereis atendido; pedis e re‐
cebereis; buscais e encontrareis”. Traduzindo: A cada
um, segundo suas obras.
O cotidiano do trem de Serra do Navio, nas suas his‐
tóricas idas e vindas, levam e deixam passageiros a seus
destinos, assim como nosso manganês e outras rique‐
zas, a rumos ignorados. Navios vêm e vão, vão e vêm,
levando o velho sonho do Eldorado. Tudo é memória
nas pinceladas de Negrão.
Belas morenas, esculpidas, de curvas sensuais, qua‐
se vivas, mostram uma beleza típica como genética na‐
tural e histórica de nossa gente. Em verdade, somos
uma combinação de raças, sim, porque a outrora vila
de São José de Macapá foi habitada por gente vinda da
capital do Grão Pará. De lá traziam negros escravos. Os
colonizadores, aqui radicados, capturavam nativos da
região para trabalhos forçados na construção da histó‐
rica Fortaleza de São José de Macapá, inaugurada em
1782. Os nativos foram a maior força de trabalho nesta
penosa empreitada. O velho forte é, por assim dizer,
bem retratado por R. Negrão, em diferentes formas ou
ângulos, assim como a Igreja de Nossa Senhora da Con‐
ceição, localizada no bairro do Trem, ambiente cul‐
tural onde o artista foi criado.
Tivemos o grande prazer de conhecer
o artista no ano de 1983, quando foi rea‐
lizado o II Moap, o Movimento Artísti‐
co Popular do Amapá. Ocorria em de‐
zembro, na Praça da Bandeira, sob a
liderança do saudoso R.Peixe, o con‐
sagrado decano da pintura ama‐
paense. O pintor Negrão foi um dos
fundadores do Moap, juntamente
com Peixe, Estevão da Silva, Franck
Asley, J. Salis, Beto Peixe, Reginaldo Al‐
meida e Irê Peixe.
Durante a organização do II Moap, vimos
como até hoje vemos, um R. Negrão sempre foca‐
do em tudo aquilo que faz. E faz com muito zelo. A ex‐
posição plástica por ele organizada na praça tinha todo
um cuidado. Tudo era muito simétrico, espaços calcu‐
lados, painéis estrategicamente per ilados. Os quadros
de expositores seguiam a seguinte regra de avaliação:
tamanho e temática. As melhores obras ele discreta‐
mente destacava.
O professor Fernando Medeiros pontuou a seguin‐
te crítica sobre a obra de R. Negrão, em 21 de agosto
de 1980, destacando o prematuro talento do artista:
“R. Negrão foi estudante do Curso de Saúde do Colégio
Amapaense, no Centro Interescolar. Desde criança se
dedica à arte de pintar. Foi durante o curso primário
que recebeu seu primeiro incentivo para o desenvol‐
vimento de sua arte, após obter a melhor nota em de‐
senho. E é o que faz até hoje, desenvolver potencial‐
mente sua arte, sem nunca ter frequentado curso de
pintura. Às vezes, doa suas obras a amigos, como for‐
ma de difundir sua arte. Classifica seu estilo como sur‐
realista, muito embora nunca tenha tido uma forma‐
ção acadêmica”.
R. Negrão
já expôs no
Maranhão, Bahia,
Pará, Ceará,
Pernambuco, Distrito
Federal, Goiás, São
Paulo, Paraíba,
Sergipe e Guiana
Francesa.