Revista
DIÁRIO
- Novembro 2015 -
60
MeioAmbiente
Apesar do processo de verticalização dos prédios e
da proliferação de conjuntos habitacionais,
crescem de forma incontrolada as palafitas em
Macapá, cuja população representa, hoje, segundo
estatísticas oficiais, aproximadamente 30% da
população da capital, o que significa algo em torno
de pouco mais de 91 mil pessoas, considerando
que o município possui, em 2015, uma população
de 456 mil habitantes, de acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Texto:
Ramon Palhares -
Fotos:
Marcones Brito
E
sse fenômeno, de acordo como pesquisador Antônio
da Justa Feijão, decorre da falta de planejamento na
remoção de famílias do habitat a que estão acostu‐
madas, colocando‐as em áreas inóspitas, sem qualquer
apego de convivência, levanda‐as a retornar posteriormen‐
te aomesmo local, construindo barracos nas proximidades
do lugar onde moravam, já que a moradia original passou
a ser ocupada por outras pessoas. “O reordenamento só‐
cio‐espacial tira as pessoas de áreas de invasão e baixadas,
onde possuem identidade e vivememsituação histórica, e
as levam ao exílio urbano, onde não encontram a escola
que os ilhos frequentava, como no caso doMacapaba (con‐
junto residencial localizado na zona norte deMacapá), on‐
de antes só havia paisagem natural. É como a planta que
se retira de um determinado solo e a planta em solo dife‐
rente, provocando a extirpação de sua história urbana. To‐
dos nós temos lembranças de nossas ruas e de nossa in‐
fância. É como vai acontecer brevemente com as pessoas
que estão no bairro Congós, desde a era Barcellos (gover‐
nador do estado na década de 1990), e que serão transfe‐
ridas para um conjunto habitacional na zona norte, tendo
como vizinhos a Lagoa dos Índios, a ressaca desabitada e
o 34º Batalhão de Infantaria de Selva, onde está sendo
construído umnovo conjunto habitacional”, analisa Feijão.
O pesquisador deixa claro que não é contra a verticali‐
zação da cidade e construção de conjuntos habitacionais,
mas defende a realização de estudos de impactos de vizi‐
nhança e preparação psicológica e social das famílias para
essasmudanças: “Essas providências são inafastáveis, por‐
que a tendência é você concentrar infortúnios por falta de
escolha. Nametodologia atual, o estado promove comseus
conjuntos habitacionais uma violência antropogênica ao
sedimentar estratigra icamente pessoas e famílias inteiras
em prédios urbanamente isolados”.
Macapá tem
30%da
população
vivendo em
áreas
de ressaca