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Viver Bem

Feminicídio e

oTranstorno

de Personalidade

Antissocial

N

os últimos meses, o país ficou estar–

recido com sucessivos crimes com ca–

racterísticas em comum: aqueles pra–

ticados por indivíduos contra justamente

aquelas que deveriam proteger, cuidar e

amar, o chamado feminicídio. Euma das ca–

racterísticas que chama atenção nesses cri–

mes é a total frieza e aparente ausência do

sentimento de arrependimento e empatia

pelos criminosos, manifestada, principal–

mente, em seus primeiros depoimentos. Ca–

racterísticas essas que fornecem ferramen–

tas para o diagnóstico de Transtorno de Per–

sonalidade Antissocial.

Estima-se que 3% a 6% da população te–

nham algum grau do transtorno (sim, você,

com certeza, conhece ou mesmo convive com

algum sociopata). Seus sintomas, porém, po–

dem se manifestar desde formas leves, como

aquele sujeito obcecado por pequenos delitos

ou vantagens, ou formas graves, como nos se–

ria killers. Todos, porém, tendem a explorar

outras pessoas para ter algum ganho, seja

material ou mesmo pessoal.

Emgeral, pessoas com transtorno de per–

sonalidade antissocial não fazem distinção

entre certo e errado, além de não levar em

consideração os direitos, desejos e sentimen–

tos dos outros (ausência de empatia). Conhe–

cer as características de um sociopata é fim–

damental para o diagnóstico precoce, acom–

panhamento adequado e prevenção de deli–

tos, desde os de menor poder ofensivo como

os episódios trágicos, exemplificados pelo fe–

minicídio.

Os principais sintomas desse transtorno

são:

Doutor

AlessandroNunes

Médico professor da Unifap,especializado

emClínica Médica pela Unifesp,eGeriatria pela USP.

* Desconsideração pelo o que é certo ou

errado;

* Ausência de empatia com outras pes–

soas e de remorsos por prejudicá-las.

*Uso de charme ou sagacidade para ma–

nipular outros em prol de si mesmo;

* Egocentrismo, senso de superioridade,

vaidade e exibicionismo;

* Comportamento irresponsável no tra–

balho;

* Uso persistente de mentiras e fraudes

para explorar terceiros;

*Abuso ou negligência com crianças;

*Dificuldade recorrente com a lei;

* Hostilidade, irritabilidade significativa,

agitação, impulsividade, agressão ou violên–

cia;

*Relacionamentos pobres ou abusivos;

*Dificuldade em aprender com as conse–

quências negativas de seu comportamento.

Indivíduos com transtorno de persona–

lidade não costumam procurar ajuda médi–

ca ou psicológica, pois não costumam ter no–

ção do problema, já que essas características

fazem parte de sua personalidade. E, nor–

malmente, quando procuram ajuda, é para

o acompanhamento de algum transtorno

associado, como depressão, ansiedade ou

abuso de drogas. Entretanto, caso você des–

confie, um psiquiatra deve ser procurado

para auxiliar tanto no acompanhamento do

paciente, como de seus familiares. Vencer o

preconceito e realizar o diagnóstico precoce

é sempre o melhor caminho para prevenção

de agravos futuros.

Revista

DIÁRIO-

Edição28 -

19

Alessandro Nunes