Entrevista
' 1.
Dr. Olavo Picanço
"O açaí possui
antioxidantes que são um
fator protetor para
vários tipos de câncer"
Especialista em cancerologia cirúrgica, Olavo Picanço afirma que a
dieta amazônica
é
adequada, com exceção dos alimentos
salgados. Ele atesta que como oaçaí, adieta regional não tem
nada que esteja tão relacionado ao desenvolvimento do câncer.
Reportagem:
Cleber Barbosa
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Fotos:
Arquivo pessoal
evista Diário - Além do Instituto de Oncologia o se;
nhor também atende pacientes da rede pública. E
isso?
Dr. Olavo Picanço - Minha rotina se inicia no ser–
viço público, onde estou todos os dias no Hospital de
Clínicas Alberto Lima, atendendo pacientes de alta
complexidade em oncologia, normalmente em cirur–
gia. Atarde tenho outra função, também pública, e nos
intervalos, geralmente aos sábados, fazemos cirurgias
num hospital privado.
Diário - Uma das suas especialidade é o trata–
mento do câncer?
Dr. Olavo - Sim.
É
uma das minhas especialidades.
Voltei-me principalmente para os tumores do aparelho digestivo e
abdominais. Falar de câncer é falar de uma doença com muitos es–
tigmas. As pessoas ainda se assustam muito, pois até até o fim do
século passado olhavam e entendiam o câncer com uma condição
de terminalidade, ou seja, tem diagnóstico de câncer, vai morrer. O
que acontece é que hoje essa visão não funciona mais. Agente hoje
consegue tratar, atender os pacientes que têm câncer, de forma hu–
mana, para trazê-los, senão à cura, mas pelo menos melhorar a qua–
lidade de vida; curar sempre que possível, aliviar a dor desses
pacientes, sempre.
Diário - Um alento, pelo menos...
Dr. Olavo - Infelizmente, em nossa realidade de país de ter–
ceiro mundo, a maioria dos pacientes que a gente encontra é com
doença avançada. Aqui em nosso estado, por exemplo, existe
grande quantidade de pacientes com câncer no estômago. Ainda
há esse estigma com pacientes com esse tipo de câncer, bem como
de outros tipos. Alguns familiares acham que o câncer é uma
doença transmissível, não é. Não tem nenhuma relação de trans–
missibilidade. Podemos conviver com um paciente com câncer sem
nenhum problema.
Diário - Relação com hereditariedade, sim, não é doutor?
Dr. Olavo - Ahereditariedade já é uma outra história. Existem
alguns tipos de tumores de doenças malignas que têm relação
maior com o sistema hereditário. Mas as pessoas não têm que se
assustar e achar que se um familiar tem câncer, todos da linhagem
vão ter. Não é verdade. Menos de 10% dos tumores são hereditá–
rios, têm algum potencial hereditário.
Diário - O senhor é membro da Sociedade Brasileira de Ci–
rurgia Oncológica, então costuma levar para esse colegiado
discussões a respeito das causas do câncer?
Dr. Olavo - Sim. A primeira coisa que a gente pensa é isso
mesmo, o histórico no atendimento terciário, ou seja, o paciente
que precisa estar no hospital para ser tratado cirurgicamente ou
clinicamente. Otratamento oncológico tem um tripé básico de tra–
tamento, um que é feito pelo cirurgião oncológico, um que vai fazer
a entrada do paciente, pois o diagnóstico é feito pelo cirurgião on–
cológico, fazer a biópsia se for o caso, e que posteriormente deci–
dirá com o oncologista clínico o melhor tratamento, como a
quimioterapia ou outros tratamentos alternativos, como a hormo–
nioterapia e imunoterapia, que são feitos pelo oncologista clínico
também. Temos a radioterapia, uma outra forma de tratamento.
Então, procuramos unir as três áreas principais médicas, associa–
das a outras áreas de apoio que temos. O tratamento do paciente
oncológico hoje é multidisciplinar, não dá para um médico só aten–
der, não dá para ser só o oncologista clínico, o cirurgião ou o radio–
terapeuta. Precisa do apoio do nutricionista, enfermeiro, do
fisioterapeuta, psicólogo, do fonoaudiólogo. Enfim, são outras áreas
que nos auxiliam no tratamento.
Diário - A base para o estudo das causas vem daí?
Dr. Olavo - Quando a gente pensa em câncer, entende que o
tratamento do paciente tem que ser feito por pessoas que saibam
tratar o câncer; existem vários estudos e as equipes de hoje traba–
lham com evidências, mostrando que os pacientes que tratados
com cirurgião especialista em oncologia têm melhora na qualidade
de vida, maior sobrevida, tratamento adequado. Com linfadenec–
tomia, ou seja, a retirada das ínguas na quantidade adequada, para
poder proporcionar o estadia, ou seja, ver como está a doença, para
propor tratamento adequado, seja só cirúrgico, seja associando
com a quimioterapia ou a radioterapia.
Diário - Sobre prevenção, o que o senhor falar a esse res–
peito?
Dr. Olavo - Agente deve pensar em três doenças básicas, três
tipos de câncer específicos que promoveram mudanças na evolu-
Revista
DIÁRIO
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Edição 28-
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