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É

possível tratar pacientes com câncer no Amapá.

' '

ção dessas doenças com medidas preventi–

vas. Por exemplo, o câncer de pulmão, um

dos tumores mais frequentes, em que o

simples fato de deixar de fumar já resolve–

ria o problema ou diminuiria a incidência

da doença.

Diário - O câncer de pulmão foi de

alta incidência?

Dr. Olavo - Ainda é uma das principais

causas de morte no mundo em importância

e a principal causa de morte no mundo por

câncer. Mas temos ainda o tumor de mama

nas mulheres. Também o tumor de colo de

útero, pois se fizermos acompanhamento

poderemos vir a descobrir em fases ini-

ciais. Agente espera que daqui a alguns anos, com a vacinação des–

sas pacientes e a redução dos quadros de HPV, reduzir a

quantidade de casos do câncer de colo de útero. Aqui no norte do

Brasil há muito mais casos de câncer no colo do útero do que cân–

cer de mama, diferentemente dos estados do Sul e Sudeste. Agente

sabe que 80% dos casos de tumores estão relacionados a fatores

ambientais que vão desde a alimentação a atos sexuais com riscos

de contaminação pelo HPV; a obesidade relacionada ao apareci–

mento de câncer do intestino; e o consumo de alimentos salgados.

Diário - Tem isso também?

Dr. Olavo - Sim. Temos uma região do salgado, como existe no

Pará, próximo a Salinópolis, onde eles salgam demais os alimentos,

e ao fazer isso e consumir a carne a pessoa corre o risco de desen–

volver compostos cancerígenos. Então o consumo deles pode levar

a tumores cancerígenos. Aqui no Amapá, segundo o último levan–

tamento do Inca, temos em torno de 22,35 por 100 mil habitantes

de casos de câncer de estômago.

Diário - Aquele sal que a gente costuma colocar na pipo–

quinha do cinema também?

Dr. Olavo - Não. Esse tipo de sal está mais relacionado a doen–

ças cerebrovasculares. Estamos falando de infarto agudo do mio–

cárdio, hipertensão arterial e acidente vascular encefálico, que são

as principais causas de mortes no mundo. Em 56 milhões de mor–

tes que ocorrem anualmente, praticamente um terço foram causa–

dos por doenças cerebrovasculares; antes eram as doenças

traumáticas o segundo lugar, hoje são as oncológicas. Com o avan–

çar da idade e aumento da expectativa de vida a tendência é que as

doenças oncológicas comecem a ganhar knowhow muito maior

nesses números de pacientes que morrem em função delas.

Diário - Todo mundo tem na família ou entre amigos al–

guma história de casos de câncer. Mas quando envolve uma ce–

lebridade a repercussão é maior. No caso do cantor sertanejo

Leandro, que morreu há 20 anos, chamou a atenção o fato do

diagnóstico vir só com o quadro de dor forte, com a doença em

estágio avançado.

Dr. Olavo - Oque fiquei sabendo, através da imprensa, é que o

Leandro teve um tumor raro, muito raro, que a gente chama de

tumor neuroectodérmico primitivo ou tumor de einstein, que foi

para uma localização chamada mediastino, entre os pulmões, onde

está o coração, onde estão inúmeros nervos e vasos importantes

do corpo, artéria pulmonar veias pulmonares, a artéria aorta. Mas

a morte dele não foi nem no sentido de metastatizar, foi o cresci–

mento local descoberto realmente numa fase avançada e que não

tem como definir o diagnóstico antes.

Diário - Esse é o x da questão: o diagnóstico precoce,

não é?

Dr. Olavo - Mas ninguém pode sair fazendo exal!les de tomo–

grafia nos pacientes se ele não está sentindo nada. E submeter o

paciente a um exame que tem seus riscos, radiação, em busca de

um procedimento. Quando eu coloco isso é devido

à

questão do

modismo, pois hoje a moda é fazer exame chamado PET Scan, ou

PET CT. Muitas pessoas chegam ao consultório e pedem para fazer.

Costumo dizer que não é um exame isento de riscos, é um exame

de acompanhamento ou seguimento de al–

guns tumores específicos, portanto não

vale a pena fazer para todo mundo.

Diário - Com relação

à

dieta amazô–

nica, existem alguns hábitos alimenta–

res de risco?

Dr. Olavo - A nossa dieta amazônica é

adequada, com exceção dos alimentos sal–

gados. Um exemplo é o açaí, que possui inú–

meros antioxidantes, o que é um fator

protetor para vários tipos de tumores e que

podem se desenvolver. Com relação ao res–

tante da nossa dieta não tem nada especi–

ficamente que esteja tão relacionado ao

desenvolvimento do câncer.

Diário - Há quem diga no Amapá que diante de um diag–

nóstico de câncer o melhor médico é o aeroporto de Macapá...

Dr. Olavo - Isso é uma realidade, infelizmente, não só do nosso

estado. Costumo falar que quem está no Amapá quer ir para Belém;

quem está em Belém quer ir para São Paulo; quem está em São

Paulo quer ir para os Estados Unidos; quem está na China, para a

Lua! [risos] já ouvi várias vezes esta pergunta: "O senhor indica

que eu faça tratamento fora?" Não indico. O único tratamento que

não temos hoje em nosso estado e que em breve teremos é a radio–

terapia. Nos demais, temos cirurgiões capacitados e oncologistas

clínicos capacitados nos melhores centros deste país. A nossa es–

trutura pública está gradativamente melhorando, graças a Deus.

Na rede privada temos um hospital que dá excelente estrutura hos–

pitalar e centro cirúrgico para a gente poder conduzir os pacientes.

Mas se ele não se sente seguro, sempre defendo que deve procurar

uma segunda opinião médica. Sinto-me confortável de tratar pa–

cientes no Amapá, meu estado de origem.

Perfil...

~

OlavoMagalhãesPicanço Junior possui graduação

~em

Medicina pela UniversidadedoEstado do Pará

(2001), éespecialistaemcancerologiacirúrgica (2007) e

cirurgiageral (2005) com residência médica reconhecida

pelo MECno Hospital Ophir Loyola (Belém-PA).

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DIÁRIO-

Edição 28 -

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